DIGESTÃO (escola de verão em pesquisa e criação, em colaboração com outres dançarines)
seg., 17 de jul.
|Larret, Saint-Saud-Lacoussiere
Horário e local
17 de jul. de 2023, 19:00 – 23 de jul. de 2023, 19:00
Larret, Saint-Saud-Lacoussiere
Sobre o evento
A proposta é reunir artistas, pesquisadores e trabalhadores do gesto (dança, circo, performance, teatro, mímica...) para uma semana de encontro(s) e estudos compartilhados. Depois de uma primeira escola de verão dedicada às Decomposições (2021), esta segunda edição chama-se Digestões. le rumen, um grupo de cinco artistas/pesquisadores, trabalham juntos para montar a estrutura e estará presente durante a semana.
Em nosso grupo Rumen, todos nós compartilhamos a experiência de sermos encurraladopor certas dimensões das nossas profissões - tempos de produção, acumulação de tarefas, ritmo das estações, obsolescência das criações - mas também uma profusão de eventos artísticos e culturais, festivais, livros, filmes, conteúdos online. Nossas reuniões profissionais são na maioria das vezes dedicadas a compartilhar nosso “trabalho”, observar o dos outros ou divulgar (muitas vezes verticalmente) informações.
Vivemos um desequilíbrio crescente entre o volume (e a natureza?) daquilo que ingerimos e o tempo que temos para o digerir. Nós somos saciadomas de quê? E o que fazer com o que se recusa a ser digerido/transformado, a ponto de, por vezes, nos provocar indigestão. E, portanto, que espaços possíveis para o que nos ultrapassa o apetite? Diante dessa constatação, imaginamos para esta semana em Larret um espaço-tempo de digestão coletiva.
A digestão que ocorre nos estômagos humanos (e não humanos), assim como a decomposição que ocorre no húmus, é um assunto multiespécies, uma conquista coletiva envolvendo mais de 500 espécies diferentes (uma das quais é comumente chamada de Homo sapiens). A palavra “digestão” deriva do latim gerere (carregar), que também está na origem do “gesto” francês: a digestão põe em jogo, assim, a gravidez, a gestação, o fato de carregar e carregar consigo o que comemos e o que respiramos e com o que nos tornamos; e é atravessado por gestos (comer, engolir, liquefazer, triturar, filtrar). A digestão problematiza a concepção humanista do sujeito como entidade transcendente. O que se consome contribui para o futuro do consumidor.
Para nós que dançamos/movimentamos e trabalhamos os gestos, o que a digestão pode nos ensinar sobre os movimentos que estudamos, no estúdio e fora dele? A digestão poderia nos ensinar a convidar ou inventar novas epistemologias e superar a divisão prática/teoria no conhecimento acadêmico atual?
O praticante somático Hubert Godard fala nesse sentido de uma leitura do gesto que passa pelo que ele chama de “olhar antropófago”:
“Ver a gravidade não passa pelo raciocínio. Se olho com um olhar focal, se penso por causas e deduções, não vejo nada. Mas se eu deixar um pouco de estar neste modo, se eu me tornar periférico, ou seja, se eu concordar em comer a pessoa, por um canibalismo muito real, se eu concordar em me tornar o outro, então eu posso sentir o que está acontecendo dentro dela. quando observamos os gestos dos outros.”
Seguindo-o, sonhamos com uma epistemologia da digestão (mais do que da análise, da reflexão, da crítica) que proporia substituir a distância ótica por uma forma muito particular de proximidade: a do parietal ou do visceral. , onde há lugar para os afetos, pela ressonância empática, pelo contágio gravitacional do outro sobre nós.
Nas palavras de Donna Haraway, importa que histórias usamos para contar histórias, e importa que gestos usamos para estudar outros gestos... Dando continuidade à escola de verão de decomposições, esta semana não terá estrutura pré-concebida, aulas ou seminários. Preferimos imaginá-lo como um estúdio, em seu sentido primário, um lugar para estudar e digerir juntos.
O Grupo Rúmené composto de:
Sylvie Balestra, Myriam Pruvot, Marcela Santander, Pol Pi e Asaf Bachrach.
Os Rumens participam na conceção e implementação do (pré)quadro bem como na eventual seleção dos participantes aterragem coletiva. No restante da semana, o grupo não terá lugar privilegiado no decorrer do evento.
Larret em Movimentos(larret-a-venir.fr) co-desenvolve um lugar de vida coletiva, criação e acolhimento para quem ali chega: bailarinos, pesquisadores, filósofos, artesãos, curiosos. Suas atividades giram em torno do gesto e do movimento. Larret define-se como um refúgio ecossomático: um lugar onde o ambiente humano e não-humano encontra o corpo vivo-vivido.